quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Sinopse.


Quinta-feira.
Vinha eu meio molhado de 5 minutos de chuva fininha.
Dobro a esquina.
Da padaria do outro lado, um rapaz com um guarda-chuva me avista, atravessa a rua e se aproxima sorridente.
Agradeço a gentileza: Ôpa, amigo, brigadão, ein.
Ele replica: Que é isso... obrigado a você. Passa a carteira, o celular e o relógio.
Com a coragem que me permitia o susto, me indigno: Porra, bicho, assaltando na chuva?
- É isso aí, legal, bandidagem não tira folga, se vacilar roubo até São Pedro.
E lá foi ele correndo com minhas coisas e o guarda-chuva aberto.
- Filho da puta.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

domingo, 12 de setembro de 2010

SEÇÃO – Isso daria alguma coisa legal, se não fosse apenas uma frase interessante (6).

Veio ao mundo para amar e amou; depois só lhe restou morrer e morreu.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Quente (touchable).


A mulher se desnuda,
se descasca diante do meu assombro,
me alerta,
me eriça com seus pêlos, suas partes.

Assopro sua pele,
tiro-lhe a poeira,
aliso suas dobras
desembaraçando o caminho
do suor por vir.

Que lindo mistério é nosso corpo em extremo,
em excitação,
nos enchendo de cheiros,
nos molhando por dentro e por fora,
como a língua que pinta de cor saliva
- transparente como há de ser nosso desejo -
nossos dentes, nossos lábios,
o falo.

E perdidos entre tantos pecados,
dois seres se encontram por vontade própria
e de tão próximos
já não existe horizonte entre eles
para que caiba um suspiro,
um gemido mais sequer.
Se afrontam à realidade humana,
nossa realidade,
animalesca, reprodutiva, divina,
que em seu ápice,
em seu momento último de evolução
transforma seus vestígios
- de animais, criadores, deuses -
em algo compacto e único,
unidade e imensurável,
plural convertido em singular,
em prazer, somente prazer.
O prazer da carne sensível, latente,
em uma dança única,
em um lugar nosso,
feito da gente,
onde amor é mais que abstrato
e sexo mais que a planície de dois corpos.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Fail in love.


Tá chato. Foi a única coisa que Pedro falou. E não precisou mais. Carla conhecia as chatices de Pedro como ninguém.
Situações incômodas eram lugar comum na amizade deles, mas sempre souberam passar por cima delas sem nem se dar conta. Bastava um par de olhares e já havia plano de fuga. E tudo ia muito bem até que entre eles surgiu algo sem nome e cheio de vergonha, e para algo tão desconhecido assim, não existia plano que valesse.

A começar pelo começo.
Carla, e não digo porque seja mulher ou por ser uma observadora felina , foi quem primeiro notou algo estranho em seus pensamentos. Era só uma vontade boba de contar besteiras do dia-a-dia, coisas que não lhe chegavam a surprender mais do que o suficiente para se destacar no cenário cotidiano, mas que na cabeça dela só cobravam sua razão de ser ao contar para Pedro o que lhe havia acontecido, o que havia assaltado sua atenção enquanto andava na rua, na televisão ou na internet. Até então não pensava nele. Fora desse círculo, não pensava nele. E como se de algo esquecido realmente se tratasse, um dia ele veio à cabeça como um estalo, tomou posse de tudo com um sorriso e lhe apareceu de forma clara e definitiva.

Pedro agora era inesquecível.

E ele demorou para se dar conta desse fato. Até que o fez, pensou mil besteiras, cometeu mil besteiras, disse não mil vezes e talvez somente uma, a vez necessária para que Carla confiasse no que sentia, mesmo sem a confirmação de que o sentimento de Pedro alguma vez lhe viesse a pertencer. Foi assim que começaram.

Ela já lhe havia dito sim, e depois, só lhe disse sim todos os dias. Apesar disso, Pedro continuava um indeciso. E com as tantas pedras de Drummond que ficaram incomodando no meio do caminho passado, mil vezes brigaram e nem sempre fizeram as pazes, ainda que da boca para fora fingissem concordar.

Após brigas e mais brigas, pedras e mais pedras, durante um tempo, durante certo tempo, durante muito tempo, Carla se entendeu melhor com o Pedro da sua cabeça que com Pedro. Pedro da sua cabeça lhe dava sempre razão, e do jeito que ela gostava, sem complacência, realmente com um coração que sempre dizia sim.

Amorosamente se tornaram um trio. Porém Carla sempre negou para si essa hipótese. Não por faltar com a verdade. Mais bem por desconfiar que um deles jamais aceitaria a existência do outro na relação, de um amante, ainda que fosse seu gêmeo, seu clone ou simplesmente o reflexo sem graça marcado de batom do beijo que ela deixara no espelho. Por conta disso, escondia um do outro, mesmo sem saber ao certo qual dos dois seria o desmancha-prazeres. Ela não tinha interesse em destapar esse mistério, prefiria esquecer de um Pedro ao estar com o outro Pedro, acreditar que eles nunca se veriam as caras, como se - ingênuamente- não soubesse que para o ciúme não lhe faz falta um rosto nem um nome. Ela ainda assim preferia calar e omitir, achando que ganhava tempo. Não queria acabar com tudo aquilo logo agora. Agora que como mulher se descobrira mais frágil do que imaginava, já que segundo sua psicóloga, o amor – não espalhem – debilita.

A entendedora do assunto chegou a jurar que 90% dos seus pacientes sofria disso, fosse por excesso ou por falta. Os 10% restantes eram meros psicossomáticos. Por sinal, um amor psicossomático era o maior medo de Carla. Medo real. Às vezes por conta disso encucava e se perguntava e perguntava a Pedro da cabeça e perguntava a Pedro, como saber se o que sentia era verdadeiro se nunca o sentira antes? Foi ela quem o encontrou e quis acreditar nele, mas não teria sido somente algo criado e alimentado por ela mesma? Ambos Pedros também se perguntavam o mesmo, ainda que nunca chegaram a entender por completo o que um sentimento verdadeiro poderia dar a Carla que um de ilusao não pudesse dar.

De todos modos, igual que se descobrira frágil, Carla também percebera ser uma amante cuidadosa, beirando o excepcional, no afago e no fogo. Logo ela que sempre alardeou de odiar carinhos, manhas e outras coisas doces. Talvez fizesse uma relação entre as duas coisas, entre sua fragilidade e sua leveza. Quem sabe por ter a convicção de que quem mais se entrega, no final, é quem mais perde. Isso pensava Carla até deparar-se com a certeza em forma de frase. Tá chato.

Ali, naquele momento, naquela frase, na última letra, havia um ponto final.

Só lhe restava o Pedro da cabeça. O mesmo que agora tenta consolar sua nova amiga.
E de dentro dela, Pedro faz o que pode. Até mesmo filosofar enquanto se deixa cair em um puff de pensamentos tolos, ora suicidas, ora homícidas, ou simplesmente de amor doído, o que resulta ser sinônimo de ambas palavras.

Para a filosofia de Pedro da cabeça, Carla e Pedro, Pedro e Carla, eram duas historias de amor completamente diferentes.

Nota do autor:
Pra mim, o amor é uma pergunta.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

SEÇÃO – Isso daria alguma coisa legal, se não fosse apenas uma frase interessante (3).

Já vi sua cara antes. Tenho certeza. Eu tenho memória pornográfica.

domingo, 8 de agosto de 2010

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

terça-feira, 3 de agosto de 2010

SEÇÃO – A patética convicção de falar sobre tudo sem querer dizer nada (1).

Comecei a tomar chá e estou gostando. Já posso começar a ser esnobe? Por sinal, o chá que eu gosto é de maçã, canela e hibisco, uma flor que eu não sabia que tinha esse nome. Lá em Pitimbu tinha uma caralhada dessas flores. Com certeza vocês sabem qual é a flor. Eu nem sabia que se fazia chá com esse troço, ainda que eu acabei de ver aqui na minha pesquisa que a espécie da qual se faz o chá é diferente da ornamental. De todos modos, acabam de me dizer que hibisco é papoula, assim que não se fale mais nisso.
Ah, e eu acho really pretty ver a bolsinha soltando a tinta vermelha na água lentamente. Parece sangue. Am i a psycho?
Só sou eu ou todo mundo imagina que as bolsinhas de chá estao pescando dentro da taça? (Post it mental: stop take drugs, man).
Ah, acabo de descobri que tem até uma dieta chamada Chá de hibisco, que usa o próprio para emagrecer até 4 kilos em 15 dias. Errr... hum... eu já levo quase isso tomando esse chá (não por conta da dieta, digo logo, porque até 5 minutos atrás eu não fazia nem idéia disso), mas ainda assim não tô vendo emagrecer porra nenhuma.
Eu entro em sites para pegar informações sobre algumas frutas, ervas, verduras e tal (principamente quando tenho a intenção de começar alguma das minhas dietas falidas) e eu fico abestalhado com a quantidade de coisas maravilhosas que as pessoas escrevem sobre elas. Parece que um pedaço de melancia vai salvar sua vida e deixar seu organismo tão bem que você resiste até a uma hecatombe. Em outras palavras: remédios são pros fracos. Só estando doente mesmo pra comprar alguma coisa em uma farmácia. Except condoms.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

As dores da morte de não sei quem.


Começa o dia. Azia. 172 centímetros se levantam da cama sem muita cara de gostar das manhãs. Olha o copo com água colocado no parapeito da janela. Ninguém esteve espiando-o durante a madrugada. O líquido permanece inalterado, impoluto. A árvore coberta de galhos foi recentemente habitada, mas por nenhum humano. Somente uma horda de passarinhos estrangeiros cujo visto havia expirado ao surgir o sol.
Negro, o sujeito sem barriga reza para que seu organismo retome suas funções depois de 8 horas letárgicas, paralisadas, em greve de consciência. Junto ao corpo, a mão, a direita, algo trêmula.
Junto ao corpo, à mão, à direita, algo tremula. Era o celular que em um instante vibra com um só toque e deixa de incomodar.
Era a deixa.

Tsiiiiii. Agora é o copo que recebe a visita de estrangeiros. Um objeto arredondado, branco, que aterrissa com um enorme blum, deixa as águas em chamas. Desprendem-se pequenas cápsulas, borbulhas protetoras pilotadas por minúsculos seres NahCo3. Aquela invasão terminaria com sucesso, ainda que a azia resistisse bravamente até o momento que o ponteiro do relógio andara seu primeiro centímetro depois das 12, recomeçando seu trabalho de correr atrás do rabo. Era o noticiário. E a notícia da abertura era que se havia terminado o conflito entre a acidez do estômago e o bicarbonato de sódio. Obviamente, uma luta por reformas de base.

A boca desincronizada da apresentadora se antecipava as notícias em primeira mão. Entre a crise econômica e os gols da rodada, uma manchete curta, para encher a pauta: morte misteriosa.

Era a milésima vez que lia, falava ou escutava esse pleonasmo. Pensou sobre o que sabemos sobre a morte. Perguntou-se: A alma seria basicamente uma pilha para os brinquedinhos de Deus?

Não sei se a coceira que a noticia provocou no ouvido do nosso amigo ou o conseqüente pensamento sobre sua relação com Deus fez com que ele - tão acostumado às incógnitas - se transformasse em uma.

Ninguém conhecia seu rosto, sua voz, sua conta bancária. Não existiam seus. Ele era a porra da dúvida que não se desfazia no ar. O homem que reduzia cada morte a um único resquício: azia.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Está difícil (para se divertir é só complicar).



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O ator estava tão concentrado em seu próprio primeiro plano mental que conseguira polutar suas próprias calças de cor cinza e tecido comum.

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O ator estava tão concentrado em seu próprio primeiro plano mental, que mesmo sem o apoio das mãos, alcançara o gozo; conseguira polutar suas próprias calças de cor cinza e tecido comum.

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O ator estava tão concentrado em seu próprio primeiro plano mental, que mesmo sem o apoio das mãos - o que me faz pensar, portanto, dever-se somente às suas lembranças mais saborosas, aos anos de estudo teatral, aos cheiros de suas descobertas adolescentes, a todo o frenesi desloucado que conhecia de bastidores -, alcançara o gozo; conseguira polutar suas próprias calças de cor cinza e tecido comum, ainda que sem saber, com aquela humilhação brilhante chegara ao auge de sua carreira impoluta.

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O ator - que interpretava um punheteiro -, estava tão concentrado em seu próprio primeiro plano mental, que mesmo – sob os olhos da produção do filme e todos seus ajudantes – sem o apoio das mãos – o que justificava o silêncio dramático e fascinado da equipe já comentada –, o que me faz pensar, portanto, dever-se somente às suas lembranças mais saborosas, aos anos de estudo teatral – quando ainda jovem desejava possuir, literalmente, no sentido literatura da palavra, Athenas, Helena, e quem sabe, Afrodite – , aos cheiros de suas descobertas adolescentes, a todo o frenesi desloucado que conhecia de bastidores – nos sentidos que entende o Houaiss - e que em sua memória, talvez em um ato psicológico de associação, - pois da coxia escutava o rugir da platéia faminta de cultura entrando em seus ouvidos ligeiramente empoeirados de maquiagem - alcançara – assim, num passado mais que perfeito –o gozo – esta vez no sentido último do grande livro, por incrível que pareça, ainda que me pareça romântico por parte do Aurélio –; conseguira polutar – minha humilde contribuição ao idioma - suas próprias calças de cor cinza e tecido comum, ainda que sem saber, com aquela humilhação brilhante chegara ao auge de sua carreira impoluta.

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O ator - que interpretava um punheteiro -, estava tão concentrado em seu próprio primeiro plano mental, que mesmo – sob os olhos da produção do filme e todos seus ajudantes – sem o apoio das mãos – o que justificava o silêncio dramático e fascinado da equipe já comentada –, o que me faz pensar, portanto, dever-se somente às suas lembranças mais saborosas, aos anos de estudo teatral – quando ainda jovem desejava possuir, literalmente, no sentido literatura da palavra, Athenas, Helena, e quem sabe, Afrodite – , aos cheiros de suas descobertas adolescentes, a todo o frenesi desloucado que conhecia de bastidores – nos sentidos que entende o Houaiss - e que em sua memória, talvez em um ato psicológico de associação, - pois da coxia escutava o rugir da platéia faminta de cultura entrando em seus ouvidos ligeiramente empoeirados de maquiagem - alcançara – assim, em um passado mais que perfeito –o gozo – esta vez no sentido último do grande livro, por incrível que pareça, ainda que me pareça romântico por parte do Aurélio –; conseguira polutar – minha humilde contribuição ao idioma - suas próprias calças de cor cinza e tecido comum, ainda que sem saber, com aquela humilhação brilhante chegara ao auge de sua carreira impoluta.

Ali, naquela cena, desfrutei – como todos do platô e da audiência que depois viu o fime - do seu ápice intelectual, do seu clímax profissional – aquele que o fizera maior que todos os demais atores que um dia foram iluminados em um palco e fora dele -, da sua imensa paixão pela arte da mentira benevolente. E nem sequer foi o caso de presenciar o encontro da satiríase com a prostituição. O ator sentiu aquilo de verdade. Mas apesar do espectador só intuir o que nós ali presente vimos, ambos terminamos elevados, em estado de admiração do ser humano. Aquele era um homem que gozava do que fazia.




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Eu tenho os dicionários Houaiss e Aurélio, versões Mini, pra facilitar.
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Bastidor/es
No Houaiss se define como coxia, como intimidade e como par de aros que esticam o pano para bordar.
No Aurélio, só aparece o sentido de caixa de madeira onde se segura o tecido para bordar.
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Ah, e nenhum dos dois tem suruba. Ou seria surruba? Alguém tem um dicionário pra me emprestar? Brincadeira.
Abri um minidicionário “Melhoramentos” que ainda estava novinho, com plástico e tudo, para encontrar a desavergonhada – ou melhor, a palavra que os outros dicionários tinham vergonha – orgia sexual com mais de duas pessoas)
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quarta-feira, 14 de julho de 2010

À pedidos.



Em 2002 quando por aqui cheguei, coisas do primeiro mundo me assustaram.

Não o frio. Não o idioma. Não os biotipos.

As ruas limpas, sim. Mas o que mais sim, foi a ausência de mendigos.

Vá lá, moro numa cidade pequena. Suponho uns 60 mil habitantes.
Perto de Recife isso é fichinha. E talvez fosse até normal que morando na Europa, numa cidade pequena além do mais, isso fosse a regra.
Mas pra mim, era estranho.
Como assim não tem ninguém jogado no chão para que nossas retinas possam evitar?
Sei lá. Isso não pode ser normal. Mas podia.

E muita coisa mudou em 8 anos.

Eu mudei pra caralho. Eu nem me reconheço.
Me olho no espelho e me apresento quase sempre ao mesmo estranho todos os dias.
A cabeça, o cabelo, a barriga.
O jeito, a fala, a cabeça outra vez.
Sou eu mas não sou.
Normal, não é mesmo?
Mas será que eu sempre fui tão pessimista?

Saio pra dar uma volta.
O banco, que é banco em qualquer lugar do mundo, decora com esmero meu inferno astral. Mas pra lá me dirijo. Eu que sou católico mas não sou, como diria Kamila, ou melhor, com minhas palavras, sou o pior católico do mundo, tenho a indigesta idéia de que o inferno acaba sendo o destino de todo mundo. Por que não? Quem vai me dizer o contrário? Basta que deixe de existir céu. E meus amigos, "nos sinceremos", quem nunca cometeu um pecado imperdoável?
Fiquem tranquilos. Se acaso voces dêem por bater no inferno no final da vida ou no começo da morte, tenham a certeza de que um rosto conhecido hão de encontrar.

Na volta da minha volta, minha cidade, que há tempos eu não visitava, introduziu novas personagens em sua trama histórica de cidade milenar.
Em 15 minutos, 4 mendigos.
A mão extendida para a caridade.
E não é querendo ser ruim, não, como eu disse anteriormente, pro inferno eu já vou então não preciso de nenhum exame final com o tinhoso, mas não lhes soltei nem um céntimo. E fiz questão.
Suas mãos ao ar, suas plaquinhas suplicando atenção, me davam vergonha de suas juventudes.
Logo eu, mais um vagabundo, porém sem placa, porém com currículo, que não é o mesmo, mas quase é.
Onde se escondiam esses pedintes 8 anos atrás?
Por trás dos meus olhos?

Não vou ficar abestalhado por ver mendigos na rua, afinal, sou brasileiro.
Mas o que me espanta é que antes isso não existia, não nessa dimensão, nessa quantidade que não cabe no dedo indicador. Exagerando, eram fatos isoladíssimos e em geral praticados por imigrantes velhos ou doentes, ambos na antesala do inferno.
Não digo que eles escolheram a situação em que se encontravam, porém, os que vi hoje quase me permitem esse atrevimento. Imagino que nenhum deles sobrepassassem os 35 anos, e isso pesando a "cara de rua" que eles levavam no rosto.
Espero que no Brasil algum dia vejamos esse processo ao revés. Assim talvez alguém entenda por contraste o gosto ruim que senti essa manhã.

Porém me fica a pergunta:
Quem é pior hoje em dia do que há 8 anos, eu ou a cidade?

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Cem palavras


Saramago nao morreu
Saramago nao morre em vao

Saramago nao morre no meio da Copa

Saramago nao vai com Deus
Mas Saramago merece uma procissao
de letras acompanhando o corpo magro o corpo morto o corpo da razao

Saramago escrevia ideias
Ideias que ja foram pro caixao
Antes dele
Antes da nossa compreensao

Saramago revolucionario
Mais que dividir ceu e terra
Saramago escolheu o mar como sua amplidao

Saramago nunca foi santo
Saramago nao precisa pedir perdao

Saramago foi embora
Aportuguesar o idioma do outro lado
Saramago virou Pessoa virou Camoes

Saramago virou um bocado de paginas jogadas no chao

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Felicidade, 3mg.




O mundo é uma merda, diz o poeta. O mundo é uma merda, digo eu. E me incluo nele. Ô mundinho de merda. E é triste pensar que tem gente que resume a vida nesse mundo de merda em escrever um livro, plantar uma árvore e ter um filho. Até parece que isso muda alguma coisa. Só muda a vida da gente, porra. Já tem livro, árvore e filho pra caralho no mundo como para dar sentido a este loucura. E acredite ou não, ninguém está nem aí pro seu filho, sua árvore ou seu livro. O mundo que é bom segue na mesma. Uma bolinha de merda azul. Cheia de livros, árvores e filhos. Às vezes, livros tratados como filhos. Outras vezes, árvores plantadas para morrer como livros. E filhos, bem, filhos pra fazer mais filhos. Ou pior, filhos pra fazerem merdas mundo afora, ainda que isso signifique escrever livros, plantar árvores ou ter filhos de merda.

Depois de escrever isso, Mauro se deu conta. Ele era um filhinho de merda num mundinho de merda. Um mais. Um qualquer. A diferença é que em lugar de livro, decidiu escrever um blog, para ser muderno. A planta que plantou, ele mesmo fumou. E o filho, o filho ele deixou no banheiro.
Depois disso, desse primeiro parágrafo que até onde eu sei foi o último que Mauro escreveu ainda com cordura, Mauro se descuidou. Deixou o mundo no seu lugar, longe dele, longe de Mauro. Com o mundo ele não queria conversa. Meses depois, lá estava Mauro no manicômio. Pobre Mauro. Por não gostar do mundinho de merda, mundinho impedernido, criou seu próprio mundo. Um mundo cor de sonho. Um mundo sem gente. Sem livro. Sem ecologista. Pobre Mauro gente boa. Ficou doido. É foda. Tao gente boa aquele filho da puta. Inventou logo de endoidar. Fui visitá-lo. Fiquei pouco tempo. Dava dó olhar pra ele sem que ele olhasse de volta. Antes de eu ir embora - e acho que ele percebeu que eu ia embora - puxou a minha mao com força, causando até certa estranheza no enfermeiro que sempre lhe viu tao calmo, tao solitário no seu mundo vazio. Aproximou-se do meu ouvido com cuidado e quando eu esperava escutar sua voz fraca, perdida na loucura, ele se zangou por meu comportamento complacente, por olhar pra ele esperando um olhar de volta, por ver nele um estranho e não um amigo. Me ralhou sim. E tao alta foi sua ira que ela se repetiu em mim por dias e dias. Bastou a frase desse louco para me tirar da inércia. Me derrubar do alto da minha árvore. Deletar todas as páginas do meu primeiro livro. Esganar meu filho ainda bebê. Eu já não quero que eles nasçam na bolinha azul de merda. Mauro estava louco, mas estava certo. Tao certo quanto a frase no seu acesso de raiva:

- Yuri, caralho, será que você não vê? Eu sou um otimista, um otimista.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Tá bom, mas nao se irrite.

Em breve, atualizaçoes diárias.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Na rua.


Desempregado nao tem trabalho, mas também nao tem tempo pra nada.

sábado, 8 de maio de 2010

Sêmenótica.


Ventilador de teto. O ventilador de teto. Quem inventou o ventilador de teto? Depois de uma bela de uma trepada, era nisso que ele tinha se fixado. Sua cabeça, depois de gozar, ficava assim, branca, sem pensamentos importantes, à espera. Mas ele se concentrava. Achava que ali naquela mente em branco, qualquer idéia boba poderia se tornar uma forma de arte. Até mesmo um ventilador de teto.

Vinha martelando a idéia de pintar um quadro feito de imagens aleatórias que passassem por sua cabeça depois de foder. O orgasmo para ele era a grande musa, o inspirador da arte mais completa, gerador de tudo, a origem, o ponto de partida de todos e tudo que esses todos pudessem chegar a fazer. Certa vez, na sua obsessão chegou a tal ponto que misturou seu sêmen nas latas de tinta para pôr seus genes em cada uma de suas obras, para contaminá-las de vida. Obras, diga-se de passagem, bastante sui generis.

Ao contrario da sensibilidade que se espera de um artista, ele não admitia interrupções nesses seus momentos de catarse. Nem para conversar, nem fumar um cigarro, nem fazer um carinho. Ele só afagava a si mesmo, seu ego, sua própria tara. Seu pênis, seu pincel. Aquele corpo ao lado que lhe proporcionara a pré-inspiração deixava de existir. Só havia espaço para um artista na cama, e esse era ele.

Cazú, o Cazú como lhe chamava os íntimos - só os íntimos - como manda a gramática, ficava ali debaixo daquele ventilador, que apareceria sem dúvida no próximo quadro, secando seus suores de sexo. Se achava super poderoso, um ser molhado, pingado, pintado por Deus. E não importava quem lhe fizesse gozar, fosse Cláudio, Rebeca, Antonio, ou todos juntos. No orgasmo estava só. Aquela conversa com a inspiração não era uma roda de amigos ou de amantes. Era ele e a explosão do coito.

Nunca havia amado ninguém e muito menos se dedicado a algo ou a alguém mais que a sua própria pretensão artística. Aos 7 anos sua liturgia pictórica já dava mostras do caráter que lhe seguiria o resto da vida. Em um dever escolar, havia desenhado a seus pais nus, com sexos enormes, e ele, com suas mãos de 8 dedos cada – outra característica artística que havia mantido na maturidade – segurando seus órgãos e dando formas finais àquele retrato familiar perturbador, porém de uma acertada noção genealógica.

Cazú sabia de onde vinha.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Paixao meu cacete.


Calígula era o nome dele. Ou melhor, era o nome do filho dele. Calígulazinho. Um amor de menino. Nunca vi mais quieto. O pai, amigo meu, me disse quase em surdina, para que o pirralho não prestasse muita atenção, que necessitava pedir um conselho íntimo. Ih, já vi que vem merda por aí – pensei. Quão certo eu estava. Me chamou pro quartinho pouco ventilado que ele chamava de escritório. Entrei naquela bosta de 2 por 2 e ele afobado ainda fechou a porra da porta. Ok, vamos lá, amigo é pra essas coisas. Ele, Calígula pai, com os olhos baixos foi dizendo envergonhado:

- Cara, preciso te pedir um conselho. Você lembra da morena da minha festa de aniversario do ano passado?
- Porra, Cali, como caralho tu quer que eu esqueça? Aquela maluca quase deu pra festa inteira só com os olhos.
- Exato, essa mesma.
- Sim, mas o que é que tem ela?
- Tô comendo.
- Mentira.
- Juro, porra.
- E aí, o que é que Ju acha disso?
- Ju não sabe, né, idiota.
(Um momento. Deixa eu explicar isso. Ju é a ex, tá.)

Como se de fato fosse um imperador, Calígula deu dois passos pra trás e vi no sorriso de satisfação daquele verdadeiro idiota o resplendor que todo homem sente por ter comido uma gostosa ou posto fogo numa cidade monumental. De uma hora pra outra o sorriso foi embora e voltou a vergonha.

- O negócio é o seguinte. Ela me pediu uma parada meio estranha.
- Como assim, vei? Fio terra?
- Não, cacete, tu é louco é? Ela é gostosa, fode bem, mas também não é pra tanto, né. Aqui só come o verme.

Entendi a metáfora dele e continuei a conversa.

- Então qual a bronca?
- Ela não gostou do meu bilau.
- Como é que é?
- Isso, porra. Meu bilau, ela não curtiu.
- Ok, essa parte eu entendi, só não saquei como vou te dar conselho pra isso.
- Peraê...calma, porra, deixa eu explicar. Ela quer que eu faça fimose.
- Rsrsrsrs.
- Deixa de rir, porra, o assunto é sério.
- Sério porra nenhuma. Vai lá, cacete, fazer lifting de piroca. É rapidinho. O negocio é que na tua idade, né,basta uma enfermeira mais jeitosinha e lá vai ponto se abrindo, sangue jorrando, um horror.
- Nem fala, bota essa boca pra lá.
- Agora quem ta falando sério sou eu. Você faz a cirurgia na tranqüilidade, mas tem que passar uns dias com o companheiro morto. Nem uma alisadinha pode.
- Diz isso não.
- Digo. É assim, my friend.
- É foda.
- Pois é, nem isso.

Com o desespero aparente que só uma grande dúvida permite sentir, Calígula me disse que durante anos, Ju, a mãe de Calígulazinho, tinha pedido, implorado, oferecido recompensas indizíveis caso a Bastilha fosse instaurada na cama que ambos compartiam. Como todos nós sabemos, para Calígula aquela revolução pertencia a um futuro distante.
E de fato, alguns amigos mais escrotos e que sabiam da negação ao suborno oferecido por Ju, apontavam essa como a principal causa do fim do relacionamento. Os amigos que conheciam ambos sabiam que não.
Calígula temia a reação de Ju. Já não estavam juntos, não precisaria informar sua ex de nada, mas no fundo ele sabia que se ela descobrisse a briga ia ser feia.
Será que ela teria ciúmes do feito histórico da nova dona do território? Ela em 10 anos de casados não conseguira o que uma biscate lograria com um abrir e fechar de pernas. Calígula temia com razão.

Mas dessa vez, Calígula ia ceder. E percebi isso no momento que ele se sentou e me confessou: - Meu pau tá apaixonado. Não penso em outra mulher que não Suzana.
Dentro de mim contive o riso ao me imaginar perguntando a ele se Suzana por inteiro ou só, bem, vocês sabem o quê.

Hoje, passado uma semana da cirurgia, Calígula chega pra mim com entusiasmo e me diz:

- Rapaz, esqueci de te contar naquele outro dia. Saiu (sic) os primeiros pentelhos do Calígulazinho e o filho da puta ainda insiste com essa historia de que vai ser escritor quando crescer. Tá a fim de dar uns conselhos pra ele?
- Sobre os pentelhos ou... ah, já entendi.

domingo, 2 de maio de 2010

Breves interrumpçoes amorosas.




















Nao sou filho de Deus. Nao mereço descanso.

terça-feira, 16 de março de 2010

"O livro continuava na vida."


























Há uma dezena de vozes no meu ouvido e não obstante, todas são uma só voz, a de Cortázar. Confesso, para introduzir o tema, que esse escritor é um daqueles que eu tenho que ler e ainda não li. Aqueles que eu costumo deixar esquecidos em algum guardanapo, na beirada de um caderno, na borda de um outro livro. Nomes e títulos largados sistematicamente por onde eu passo, como se algum dia eu os voltasse a olhar e relembrasse o motivo de me interessar por eles. O velho e bom... tenho que ir atrás desse cara, dessa música, desse filme, ou pior, desse livro. Somam-se a essa lista de autores abandonados na minha mesa, centenas (como mínimo) de outros importantes novelistas, cronistas, poetas e outros miseráveis. Segundo as minhas contas, infelizmente, serei obrigado a ler alguns deles no caixão. Como desculpa matemática, e possivelmente como única desculpa que eu posso dar, me atenho ao fato de que eles são muitos e meus olhos só são dois, ainda que para piorar a situação, trabalham como um. De todas formas, devo admitir que me sinto jovem e avergonhado por só conhecê-los de nome e não de obra, ainda que dentro dessa vergonha, numa inversão completa da lógica, sinto um mínimo de orgulho, só uma ponta, porque sei que em mim existe a preocupação em conhecê-los, em lê-los. Coisa, aliás, que muitos passam por cima, seguem adiante, sem a mínima curiosidade.
Mas em relação a Cortázar a coisa vai mais longe. Tenho ele na minha mira há anos. Já fui até em exposição em homenagem a ele e tudo mais. Até diria, porém não digo, que em relação a sua obra, me sinto como um menino bobo que vive olhando a menina dos seus sonhos, sem nunca ter coragem para trocar um par de palavras.
Ok. Voltemos aos meus ouvidos. Essas muitas vozes que agora escuto são em realidade frutos de mais uma das minhas pesquisas aleatórias. Um nome que leva a outro, um interesse que fagocita outro, mil hiperlinks, e por fim, uma personalidade que considero ou reconsidero interessante. Dessa vez foi ele. Cortázar. Ele que voltou a me encontrar.
Já que era um homem de letras, ainda que não reconhecesse ser um profissional (ha ha ha), e já que não tenho nenhum livro seu para saber como escreve; me interessei, portanto, em ouvir o sotaque desse escritor que pra mim ainda é misterioso. Não estranhem. Isso acontece muito comigo. Eu tenho essa mania triste de buscar o contrário das pessoas, de confundir os 5 sentidos, de querer encaixar cinema mudo com literatura falada.
Então, procurando por alguma entrevista sua, descubro uma de 1977 para a Televisión Española. Vídeos curtos, como muito 7 minutos o que dura mais.
Depois de acabar de ver o primeiro, fui abrindo desesperadamente os vídeos relacionados da mesma entrevista, e assim foram surgindo novos Cortázar's, novas vozes, uma em cada aba que nascia berrando no meu navegador.
Obviamente, recomendo a entrevista, não por ser um grande autor que não li, e sim, porque suas respostas são de uma inteligência e originalidade abrumadora.
Como uma pequena mostra, essa frase: “...ese azar que hace tan bien las cosas... el azar hace muy bien las cosas en la História... lo hace mucho mejor que la lógica”.

Me desculpem, mas prefiro não me aprofundar muito mais sobre o personagem e muito menos na sua obra não lida. Meu texto é pra falar de como eu relembrei que eu estou devendo uma leitura para esse figuraça. Até porque continuo pensando que assim, só no aperitivo, o apetite aumenta.


P.S. O sotaque latino americano com umas derrapadas para o francês faz uma certa graça para os ouvidos mais atentos.
Ah, e claro, ainda que não tenha lido uma linha sua sequer, acho mais que válido o interesse pela obra de Julio Cortázar. Eu prometo que esse eu risco da lista antes de descer os 7 palmos.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Culinária pornô-espacial.


Eu falo putaria. Putaria pelos cotovelos. Já pensei em escrever roteiro pornô e tudo mais. Para falar a verdade, ainda não desisti dessa ideia. Até onde me consta, essa intenção ainda existe. Consigo, às vezes, imaginar cenas completas e não só pra uso pessoal e solitário. E se os dou uma prévia disso, penso filmar minha homenagem sexual a Kubrick (e aos Simpsons) rodando com gravidade zero uma cena onde após o “tradicional” iogurte ser mandado ao “espaço exterior”, a profissional recolha-o ao som de Danúbio azul. Enfim, não é original, é somente uma refilmagem de uma cena do episódio “Deep Space Homer” (que é uma homenagem ao filme de Stanley e um nome bem sugestivo pro meu), substituindo a batata por derivados do leite. Mas aposto que você pagaria para ver isso. Eu, sim.

domingo, 7 de março de 2010

Os últimos da mesa (a infância é cinza).
































82, 60, 10. Vovô, papai e eu.
Uma escadinha de idades, com esse último degrau quase inalcançável que só se salva pela memória boa da minha infância.
Lembro de estarmos todos ali, na Paraíba, numa cidadezinha mixuruca, Pitimbu.
Lembro de viver passando ali os verões, feriados, feriadões, imprensados e finais de semana, sempre no mesmo caminho que a estrada levava, e com minha família apelidando as cidades por suas estórias, besteiras antigas nunca confirmadas, ou por um amigo de um amigo que passou por lá trezentos anos atrás e soube tudo in situ.
Foi por aquelas terras e naqueles tempos, passando desde canaviais pernambucanos ao verde com barro da costa paraibana, que senti o misticismo canavieiro que só Zé Lins saberia narrar. Zé Lins e minha família, óbvio.
Se de um lado eu tinha um Cavalcante alagoano sem “i” e com “e”, que atormenta todos os meus documentos até hoje, do outro, aparecia um Rocha Lima, que desconfio judeu, mas não consigo entender que diabos eles foram fazer em Quipapá, cidade de meu outro avô – o paterno.
Desde que me dou por gente, escuto o mesmo comentário quando passamos justo em um vilarejo antecessor a minha praia paraibana, cuja maior distração é tentar descobrir em um jogo dos 7 erros impossível, se alguma coisa mudou nos últimos 15 anos.
Em umas das antigas viagens a Pitimbu, quando nem sequer existia asfalto e que casa de praia era barraca de acampamento, ao passar por essa vila com duas igrejas (uma velha, outra nova, coisa típica da preguiça nordestina em demolir), um pato se meteu na frente do carro, e empacou. Não adiantou buzina, ronco de motor, nem berros. O jeito foi jogar a ré e rumar por outro percurso calculado metículo-maliciosamente a 5 passos do pato, que por sua valentia virou em nossas cabeças o mascote local. Uma moradora vendo a cena, alertou o pato com a mesma delicadeza que um cavalo relincha: Sai daí, pato atrevido! Tenho orgulho de contar que fui umas das testemunhas do batizado da cidade. Estavamos oficialmente em “Pato Atrevido”.

Como esquecer que aos 8 e 9 anos o medo de fantasma era muito grande. Tinha medo de passar perto de um cômodo da casa pois havia uma plantinha murcha e que segundo vi em uma reportagem reiterada por minha mãe, era sinal que “alguém do outro lado” rondava a jantar na nossa mesa de jantar. Em família que acredita em espírito, até a natureza colabora na fé.
Mas nas brincadeiras de menino naquela praia de interior, eu e meu irmão nos sujávamos com freqüência e sem pavor, nas longas horas da tarde, jogando-nos desde a beira do muro que cerca o cemitério a um sem fim de carreiras e cambalhotas na areia declive, típica e fofa, afundando nossos pés na meninice e na desordem. Voltando para casa, o resultado era um par de canelas sujas e pretas, sob minha perplexa curiosidade em entender o porquê daquela cor, se a areia pisada era mais bem cinza claro.

sábado, 6 de março de 2010

Good morning, elevador.






























Com o peso da sacola de lixo, meu dedo curvou-se ligeiramente.
A letra W desenhada entre os três últimos dedos criava o vazio suficiente para que o aro impreciso e metálico do molho de chaves passasse, nao sem antes arranhar minha pele para logo cair ao chão. Não tardou em chegar aos meus ouvidos a confissão feita a base de tortura que este mesmo chão, recém amanhecido e com uma minúscula lasca a menos, fez.
Ainda era cedo, e tao confuso quanto o cabelo desalinhado que ainda se espreguiçava sobre minha cabeça, andava a própria cabeça em si, se recuperando de não fazer nada durante tantas horas. Não nego a função primordial do sono e muito menos qualquer tese psicoanalítica a respeito. Mas de manhãzinha, recém levantado, qualquer som, torturante ou não, seria recebido com maus modos por meus ouvidos, meu inconsciente e todo o escambau.

Apanhei as chaves e pensei no idiota que sou ao aceitar cotidianamente seu pedido de casamento em meu anelar. Ao ultrapassar a porta, levando comigo a primeira fresta de luz matinal ao corredor comum do prédio, seguia eu ensimesmado andando com a fronte baixa. Por conta do barulho da porta do numero conseguinte ao meu, notei a presença do vizinho que também acabava de deixar seu apartamento. A singular e fraca sombra que o corpo dele projetou no meu campo de vista matutino-depressivo foi a deixa para que as poucas células cerebrais acordadas àquela hora me enviassem uma mensagem unânime.
“Puta que pariu, seres humanos a essa hora, não”.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Eu mereço.


Brasil - Irlanda.
Joguinho bem mais ou menos. Todos na sala. O pessoal da casa mais um amigo visitante. A visita e a menina 2 resolvendo uns problemas matemáticos de um trabalho da faculdade. No sofá, eu e a menina 1, esparramados. Na poltrona, menino 2. Todos – ou quase isso – vendo a partida. Nem que fosse apenas nos momentos de perigo, quando o locutor narrava o lance com um desespero exagerado e, na retina, a pupila dos estudantes vinha bater escanteio.
O jogo continua. A menina 1 insistindo na mudando de canal só pra saber se na outra emissora já havia começado o capítulo de Lost. Nem sabia ela que em campo, ao menos no segundo tempo, 11 irlandeses pareciam tao perdidos quanto. Papo vai, papo vem, surge o tema. E a escalação pra Copa, hein? Discussões à parte, ele, sempre ele, o gordinho, vem à tona. Será que ele devia ser convocado pra Copa (atual mantra e dilema nacional-corintiano)? Será que Ronaldo fez bem em voltar pro Brasil?
Minha opinião era simples. Com a grana que ele está ganhando do patrocinador do timão, o craque provou mais uma vez que é bom também com outras bolinhas: os zeros da conta bancaria (desculpa, mas a piadinha sobre travestis fica pra outro dia).
O que aconteceu a seguir foi isso:

- Quem é o patrocinador do Corinthians mesmo?
- Acho que a Batavo.
- Batavo, Batavo... é um negocio de leite, né?
- É, pô. Leite, achocolatado, enfim, LATROCÍNIOS.
- …

Resultado: O jogo e a noite ganhos.
Com direito até ao típico bordão “Táááá láááá mais um corrrrrpo estendido no chão!”
O meu. Me acabando de rir.

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