quarta-feira, 19 de maio de 2010

Na rua.


Desempregado nao tem trabalho, mas também nao tem tempo pra nada.

sábado, 8 de maio de 2010

Sêmenótica.


Ventilador de teto. O ventilador de teto. Quem inventou o ventilador de teto? Depois de uma bela de uma trepada, era nisso que ele tinha se fixado. Sua cabeça, depois de gozar, ficava assim, branca, sem pensamentos importantes, à espera. Mas ele se concentrava. Achava que ali naquela mente em branco, qualquer idéia boba poderia se tornar uma forma de arte. Até mesmo um ventilador de teto.

Vinha martelando a idéia de pintar um quadro feito de imagens aleatórias que passassem por sua cabeça depois de foder. O orgasmo para ele era a grande musa, o inspirador da arte mais completa, gerador de tudo, a origem, o ponto de partida de todos e tudo que esses todos pudessem chegar a fazer. Certa vez, na sua obsessão chegou a tal ponto que misturou seu sêmen nas latas de tinta para pôr seus genes em cada uma de suas obras, para contaminá-las de vida. Obras, diga-se de passagem, bastante sui generis.

Ao contrario da sensibilidade que se espera de um artista, ele não admitia interrupções nesses seus momentos de catarse. Nem para conversar, nem fumar um cigarro, nem fazer um carinho. Ele só afagava a si mesmo, seu ego, sua própria tara. Seu pênis, seu pincel. Aquele corpo ao lado que lhe proporcionara a pré-inspiração deixava de existir. Só havia espaço para um artista na cama, e esse era ele.

Cazú, o Cazú como lhe chamava os íntimos - só os íntimos - como manda a gramática, ficava ali debaixo daquele ventilador, que apareceria sem dúvida no próximo quadro, secando seus suores de sexo. Se achava super poderoso, um ser molhado, pingado, pintado por Deus. E não importava quem lhe fizesse gozar, fosse Cláudio, Rebeca, Antonio, ou todos juntos. No orgasmo estava só. Aquela conversa com a inspiração não era uma roda de amigos ou de amantes. Era ele e a explosão do coito.

Nunca havia amado ninguém e muito menos se dedicado a algo ou a alguém mais que a sua própria pretensão artística. Aos 7 anos sua liturgia pictórica já dava mostras do caráter que lhe seguiria o resto da vida. Em um dever escolar, havia desenhado a seus pais nus, com sexos enormes, e ele, com suas mãos de 8 dedos cada – outra característica artística que havia mantido na maturidade – segurando seus órgãos e dando formas finais àquele retrato familiar perturbador, porém de uma acertada noção genealógica.

Cazú sabia de onde vinha.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Paixao meu cacete.


Calígula era o nome dele. Ou melhor, era o nome do filho dele. Calígulazinho. Um amor de menino. Nunca vi mais quieto. O pai, amigo meu, me disse quase em surdina, para que o pirralho não prestasse muita atenção, que necessitava pedir um conselho íntimo. Ih, já vi que vem merda por aí – pensei. Quão certo eu estava. Me chamou pro quartinho pouco ventilado que ele chamava de escritório. Entrei naquela bosta de 2 por 2 e ele afobado ainda fechou a porra da porta. Ok, vamos lá, amigo é pra essas coisas. Ele, Calígula pai, com os olhos baixos foi dizendo envergonhado:

- Cara, preciso te pedir um conselho. Você lembra da morena da minha festa de aniversario do ano passado?
- Porra, Cali, como caralho tu quer que eu esqueça? Aquela maluca quase deu pra festa inteira só com os olhos.
- Exato, essa mesma.
- Sim, mas o que é que tem ela?
- Tô comendo.
- Mentira.
- Juro, porra.
- E aí, o que é que Ju acha disso?
- Ju não sabe, né, idiota.
(Um momento. Deixa eu explicar isso. Ju é a ex, tá.)

Como se de fato fosse um imperador, Calígula deu dois passos pra trás e vi no sorriso de satisfação daquele verdadeiro idiota o resplendor que todo homem sente por ter comido uma gostosa ou posto fogo numa cidade monumental. De uma hora pra outra o sorriso foi embora e voltou a vergonha.

- O negócio é o seguinte. Ela me pediu uma parada meio estranha.
- Como assim, vei? Fio terra?
- Não, cacete, tu é louco é? Ela é gostosa, fode bem, mas também não é pra tanto, né. Aqui só come o verme.

Entendi a metáfora dele e continuei a conversa.

- Então qual a bronca?
- Ela não gostou do meu bilau.
- Como é que é?
- Isso, porra. Meu bilau, ela não curtiu.
- Ok, essa parte eu entendi, só não saquei como vou te dar conselho pra isso.
- Peraê...calma, porra, deixa eu explicar. Ela quer que eu faça fimose.
- Rsrsrsrs.
- Deixa de rir, porra, o assunto é sério.
- Sério porra nenhuma. Vai lá, cacete, fazer lifting de piroca. É rapidinho. O negocio é que na tua idade, né,basta uma enfermeira mais jeitosinha e lá vai ponto se abrindo, sangue jorrando, um horror.
- Nem fala, bota essa boca pra lá.
- Agora quem ta falando sério sou eu. Você faz a cirurgia na tranqüilidade, mas tem que passar uns dias com o companheiro morto. Nem uma alisadinha pode.
- Diz isso não.
- Digo. É assim, my friend.
- É foda.
- Pois é, nem isso.

Com o desespero aparente que só uma grande dúvida permite sentir, Calígula me disse que durante anos, Ju, a mãe de Calígulazinho, tinha pedido, implorado, oferecido recompensas indizíveis caso a Bastilha fosse instaurada na cama que ambos compartiam. Como todos nós sabemos, para Calígula aquela revolução pertencia a um futuro distante.
E de fato, alguns amigos mais escrotos e que sabiam da negação ao suborno oferecido por Ju, apontavam essa como a principal causa do fim do relacionamento. Os amigos que conheciam ambos sabiam que não.
Calígula temia a reação de Ju. Já não estavam juntos, não precisaria informar sua ex de nada, mas no fundo ele sabia que se ela descobrisse a briga ia ser feia.
Será que ela teria ciúmes do feito histórico da nova dona do território? Ela em 10 anos de casados não conseguira o que uma biscate lograria com um abrir e fechar de pernas. Calígula temia com razão.

Mas dessa vez, Calígula ia ceder. E percebi isso no momento que ele se sentou e me confessou: - Meu pau tá apaixonado. Não penso em outra mulher que não Suzana.
Dentro de mim contive o riso ao me imaginar perguntando a ele se Suzana por inteiro ou só, bem, vocês sabem o quê.

Hoje, passado uma semana da cirurgia, Calígula chega pra mim com entusiasmo e me diz:

- Rapaz, esqueci de te contar naquele outro dia. Saiu (sic) os primeiros pentelhos do Calígulazinho e o filho da puta ainda insiste com essa historia de que vai ser escritor quando crescer. Tá a fim de dar uns conselhos pra ele?
- Sobre os pentelhos ou... ah, já entendi.

domingo, 2 de maio de 2010

Breves interrumpçoes amorosas.




















Nao sou filho de Deus. Nao mereço descanso.

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