terça-feira, 31 de agosto de 2010

Quente (touchable).


A mulher se desnuda,
se descasca diante do meu assombro,
me alerta,
me eriça com seus pêlos, suas partes.

Assopro sua pele,
tiro-lhe a poeira,
aliso suas dobras
desembaraçando o caminho
do suor por vir.

Que lindo mistério é nosso corpo em extremo,
em excitação,
nos enchendo de cheiros,
nos molhando por dentro e por fora,
como a língua que pinta de cor saliva
- transparente como há de ser nosso desejo -
nossos dentes, nossos lábios,
o falo.

E perdidos entre tantos pecados,
dois seres se encontram por vontade própria
e de tão próximos
já não existe horizonte entre eles
para que caiba um suspiro,
um gemido mais sequer.
Se afrontam à realidade humana,
nossa realidade,
animalesca, reprodutiva, divina,
que em seu ápice,
em seu momento último de evolução
transforma seus vestígios
- de animais, criadores, deuses -
em algo compacto e único,
unidade e imensurável,
plural convertido em singular,
em prazer, somente prazer.
O prazer da carne sensível, latente,
em uma dança única,
em um lugar nosso,
feito da gente,
onde amor é mais que abstrato
e sexo mais que a planície de dois corpos.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Fail in love.


Tá chato. Foi a única coisa que Pedro falou. E não precisou mais. Carla conhecia as chatices de Pedro como ninguém.
Situações incômodas eram lugar comum na amizade deles, mas sempre souberam passar por cima delas sem nem se dar conta. Bastava um par de olhares e já havia plano de fuga. E tudo ia muito bem até que entre eles surgiu algo sem nome e cheio de vergonha, e para algo tão desconhecido assim, não existia plano que valesse.

A começar pelo começo.
Carla, e não digo porque seja mulher ou por ser uma observadora felina , foi quem primeiro notou algo estranho em seus pensamentos. Era só uma vontade boba de contar besteiras do dia-a-dia, coisas que não lhe chegavam a surprender mais do que o suficiente para se destacar no cenário cotidiano, mas que na cabeça dela só cobravam sua razão de ser ao contar para Pedro o que lhe havia acontecido, o que havia assaltado sua atenção enquanto andava na rua, na televisão ou na internet. Até então não pensava nele. Fora desse círculo, não pensava nele. E como se de algo esquecido realmente se tratasse, um dia ele veio à cabeça como um estalo, tomou posse de tudo com um sorriso e lhe apareceu de forma clara e definitiva.

Pedro agora era inesquecível.

E ele demorou para se dar conta desse fato. Até que o fez, pensou mil besteiras, cometeu mil besteiras, disse não mil vezes e talvez somente uma, a vez necessária para que Carla confiasse no que sentia, mesmo sem a confirmação de que o sentimento de Pedro alguma vez lhe viesse a pertencer. Foi assim que começaram.

Ela já lhe havia dito sim, e depois, só lhe disse sim todos os dias. Apesar disso, Pedro continuava um indeciso. E com as tantas pedras de Drummond que ficaram incomodando no meio do caminho passado, mil vezes brigaram e nem sempre fizeram as pazes, ainda que da boca para fora fingissem concordar.

Após brigas e mais brigas, pedras e mais pedras, durante um tempo, durante certo tempo, durante muito tempo, Carla se entendeu melhor com o Pedro da sua cabeça que com Pedro. Pedro da sua cabeça lhe dava sempre razão, e do jeito que ela gostava, sem complacência, realmente com um coração que sempre dizia sim.

Amorosamente se tornaram um trio. Porém Carla sempre negou para si essa hipótese. Não por faltar com a verdade. Mais bem por desconfiar que um deles jamais aceitaria a existência do outro na relação, de um amante, ainda que fosse seu gêmeo, seu clone ou simplesmente o reflexo sem graça marcado de batom do beijo que ela deixara no espelho. Por conta disso, escondia um do outro, mesmo sem saber ao certo qual dos dois seria o desmancha-prazeres. Ela não tinha interesse em destapar esse mistério, prefiria esquecer de um Pedro ao estar com o outro Pedro, acreditar que eles nunca se veriam as caras, como se - ingênuamente- não soubesse que para o ciúme não lhe faz falta um rosto nem um nome. Ela ainda assim preferia calar e omitir, achando que ganhava tempo. Não queria acabar com tudo aquilo logo agora. Agora que como mulher se descobrira mais frágil do que imaginava, já que segundo sua psicóloga, o amor – não espalhem – debilita.

A entendedora do assunto chegou a jurar que 90% dos seus pacientes sofria disso, fosse por excesso ou por falta. Os 10% restantes eram meros psicossomáticos. Por sinal, um amor psicossomático era o maior medo de Carla. Medo real. Às vezes por conta disso encucava e se perguntava e perguntava a Pedro da cabeça e perguntava a Pedro, como saber se o que sentia era verdadeiro se nunca o sentira antes? Foi ela quem o encontrou e quis acreditar nele, mas não teria sido somente algo criado e alimentado por ela mesma? Ambos Pedros também se perguntavam o mesmo, ainda que nunca chegaram a entender por completo o que um sentimento verdadeiro poderia dar a Carla que um de ilusao não pudesse dar.

De todos modos, igual que se descobrira frágil, Carla também percebera ser uma amante cuidadosa, beirando o excepcional, no afago e no fogo. Logo ela que sempre alardeou de odiar carinhos, manhas e outras coisas doces. Talvez fizesse uma relação entre as duas coisas, entre sua fragilidade e sua leveza. Quem sabe por ter a convicção de que quem mais se entrega, no final, é quem mais perde. Isso pensava Carla até deparar-se com a certeza em forma de frase. Tá chato.

Ali, naquele momento, naquela frase, na última letra, havia um ponto final.

Só lhe restava o Pedro da cabeça. O mesmo que agora tenta consolar sua nova amiga.
E de dentro dela, Pedro faz o que pode. Até mesmo filosofar enquanto se deixa cair em um puff de pensamentos tolos, ora suicidas, ora homícidas, ou simplesmente de amor doído, o que resulta ser sinônimo de ambas palavras.

Para a filosofia de Pedro da cabeça, Carla e Pedro, Pedro e Carla, eram duas historias de amor completamente diferentes.

Nota do autor:
Pra mim, o amor é uma pergunta.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

SEÇÃO – Isso daria alguma coisa legal, se não fosse apenas uma frase interessante (3).

Já vi sua cara antes. Tenho certeza. Eu tenho memória pornográfica.

domingo, 8 de agosto de 2010

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

terça-feira, 3 de agosto de 2010

SEÇÃO – A patética convicção de falar sobre tudo sem querer dizer nada (1).

Comecei a tomar chá e estou gostando. Já posso começar a ser esnobe? Por sinal, o chá que eu gosto é de maçã, canela e hibisco, uma flor que eu não sabia que tinha esse nome. Lá em Pitimbu tinha uma caralhada dessas flores. Com certeza vocês sabem qual é a flor. Eu nem sabia que se fazia chá com esse troço, ainda que eu acabei de ver aqui na minha pesquisa que a espécie da qual se faz o chá é diferente da ornamental. De todos modos, acabam de me dizer que hibisco é papoula, assim que não se fale mais nisso.
Ah, e eu acho really pretty ver a bolsinha soltando a tinta vermelha na água lentamente. Parece sangue. Am i a psycho?
Só sou eu ou todo mundo imagina que as bolsinhas de chá estao pescando dentro da taça? (Post it mental: stop take drugs, man).
Ah, acabo de descobri que tem até uma dieta chamada Chá de hibisco, que usa o próprio para emagrecer até 4 kilos em 15 dias. Errr... hum... eu já levo quase isso tomando esse chá (não por conta da dieta, digo logo, porque até 5 minutos atrás eu não fazia nem idéia disso), mas ainda assim não tô vendo emagrecer porra nenhuma.
Eu entro em sites para pegar informações sobre algumas frutas, ervas, verduras e tal (principamente quando tenho a intenção de começar alguma das minhas dietas falidas) e eu fico abestalhado com a quantidade de coisas maravilhosas que as pessoas escrevem sobre elas. Parece que um pedaço de melancia vai salvar sua vida e deixar seu organismo tão bem que você resiste até a uma hecatombe. Em outras palavras: remédios são pros fracos. Só estando doente mesmo pra comprar alguma coisa em uma farmácia. Except condoms.

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