sexta-feira, 18 de junho de 2010

Cem palavras


Saramago nao morreu
Saramago nao morre em vao

Saramago nao morre no meio da Copa

Saramago nao vai com Deus
Mas Saramago merece uma procissao
de letras acompanhando o corpo magro o corpo morto o corpo da razao

Saramago escrevia ideias
Ideias que ja foram pro caixao
Antes dele
Antes da nossa compreensao

Saramago revolucionario
Mais que dividir ceu e terra
Saramago escolheu o mar como sua amplidao

Saramago nunca foi santo
Saramago nao precisa pedir perdao

Saramago foi embora
Aportuguesar o idioma do outro lado
Saramago virou Pessoa virou Camoes

Saramago virou um bocado de paginas jogadas no chao

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Felicidade, 3mg.




O mundo é uma merda, diz o poeta. O mundo é uma merda, digo eu. E me incluo nele. Ô mundinho de merda. E é triste pensar que tem gente que resume a vida nesse mundo de merda em escrever um livro, plantar uma árvore e ter um filho. Até parece que isso muda alguma coisa. Só muda a vida da gente, porra. Já tem livro, árvore e filho pra caralho no mundo como para dar sentido a este loucura. E acredite ou não, ninguém está nem aí pro seu filho, sua árvore ou seu livro. O mundo que é bom segue na mesma. Uma bolinha de merda azul. Cheia de livros, árvores e filhos. Às vezes, livros tratados como filhos. Outras vezes, árvores plantadas para morrer como livros. E filhos, bem, filhos pra fazer mais filhos. Ou pior, filhos pra fazerem merdas mundo afora, ainda que isso signifique escrever livros, plantar árvores ou ter filhos de merda.

Depois de escrever isso, Mauro se deu conta. Ele era um filhinho de merda num mundinho de merda. Um mais. Um qualquer. A diferença é que em lugar de livro, decidiu escrever um blog, para ser muderno. A planta que plantou, ele mesmo fumou. E o filho, o filho ele deixou no banheiro.
Depois disso, desse primeiro parágrafo que até onde eu sei foi o último que Mauro escreveu ainda com cordura, Mauro se descuidou. Deixou o mundo no seu lugar, longe dele, longe de Mauro. Com o mundo ele não queria conversa. Meses depois, lá estava Mauro no manicômio. Pobre Mauro. Por não gostar do mundinho de merda, mundinho impedernido, criou seu próprio mundo. Um mundo cor de sonho. Um mundo sem gente. Sem livro. Sem ecologista. Pobre Mauro gente boa. Ficou doido. É foda. Tao gente boa aquele filho da puta. Inventou logo de endoidar. Fui visitá-lo. Fiquei pouco tempo. Dava dó olhar pra ele sem que ele olhasse de volta. Antes de eu ir embora - e acho que ele percebeu que eu ia embora - puxou a minha mao com força, causando até certa estranheza no enfermeiro que sempre lhe viu tao calmo, tao solitário no seu mundo vazio. Aproximou-se do meu ouvido com cuidado e quando eu esperava escutar sua voz fraca, perdida na loucura, ele se zangou por meu comportamento complacente, por olhar pra ele esperando um olhar de volta, por ver nele um estranho e não um amigo. Me ralhou sim. E tao alta foi sua ira que ela se repetiu em mim por dias e dias. Bastou a frase desse louco para me tirar da inércia. Me derrubar do alto da minha árvore. Deletar todas as páginas do meu primeiro livro. Esganar meu filho ainda bebê. Eu já não quero que eles nasçam na bolinha azul de merda. Mauro estava louco, mas estava certo. Tao certo quanto a frase no seu acesso de raiva:

- Yuri, caralho, será que você não vê? Eu sou um otimista, um otimista.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Tá bom, mas nao se irrite.

Em breve, atualizaçoes diárias.

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