terça-feira, 16 de março de 2010

"O livro continuava na vida."


























Há uma dezena de vozes no meu ouvido e não obstante, todas são uma só voz, a de Cortázar. Confesso, para introduzir o tema, que esse escritor é um daqueles que eu tenho que ler e ainda não li. Aqueles que eu costumo deixar esquecidos em algum guardanapo, na beirada de um caderno, na borda de um outro livro. Nomes e títulos largados sistematicamente por onde eu passo, como se algum dia eu os voltasse a olhar e relembrasse o motivo de me interessar por eles. O velho e bom... tenho que ir atrás desse cara, dessa música, desse filme, ou pior, desse livro. Somam-se a essa lista de autores abandonados na minha mesa, centenas (como mínimo) de outros importantes novelistas, cronistas, poetas e outros miseráveis. Segundo as minhas contas, infelizmente, serei obrigado a ler alguns deles no caixão. Como desculpa matemática, e possivelmente como única desculpa que eu posso dar, me atenho ao fato de que eles são muitos e meus olhos só são dois, ainda que para piorar a situação, trabalham como um. De todas formas, devo admitir que me sinto jovem e avergonhado por só conhecê-los de nome e não de obra, ainda que dentro dessa vergonha, numa inversão completa da lógica, sinto um mínimo de orgulho, só uma ponta, porque sei que em mim existe a preocupação em conhecê-los, em lê-los. Coisa, aliás, que muitos passam por cima, seguem adiante, sem a mínima curiosidade.
Mas em relação a Cortázar a coisa vai mais longe. Tenho ele na minha mira há anos. Já fui até em exposição em homenagem a ele e tudo mais. Até diria, porém não digo, que em relação a sua obra, me sinto como um menino bobo que vive olhando a menina dos seus sonhos, sem nunca ter coragem para trocar um par de palavras.
Ok. Voltemos aos meus ouvidos. Essas muitas vozes que agora escuto são em realidade frutos de mais uma das minhas pesquisas aleatórias. Um nome que leva a outro, um interesse que fagocita outro, mil hiperlinks, e por fim, uma personalidade que considero ou reconsidero interessante. Dessa vez foi ele. Cortázar. Ele que voltou a me encontrar.
Já que era um homem de letras, ainda que não reconhecesse ser um profissional (ha ha ha), e já que não tenho nenhum livro seu para saber como escreve; me interessei, portanto, em ouvir o sotaque desse escritor que pra mim ainda é misterioso. Não estranhem. Isso acontece muito comigo. Eu tenho essa mania triste de buscar o contrário das pessoas, de confundir os 5 sentidos, de querer encaixar cinema mudo com literatura falada.
Então, procurando por alguma entrevista sua, descubro uma de 1977 para a Televisión Española. Vídeos curtos, como muito 7 minutos o que dura mais.
Depois de acabar de ver o primeiro, fui abrindo desesperadamente os vídeos relacionados da mesma entrevista, e assim foram surgindo novos Cortázar's, novas vozes, uma em cada aba que nascia berrando no meu navegador.
Obviamente, recomendo a entrevista, não por ser um grande autor que não li, e sim, porque suas respostas são de uma inteligência e originalidade abrumadora.
Como uma pequena mostra, essa frase: “...ese azar que hace tan bien las cosas... el azar hace muy bien las cosas en la História... lo hace mucho mejor que la lógica”.

Me desculpem, mas prefiro não me aprofundar muito mais sobre o personagem e muito menos na sua obra não lida. Meu texto é pra falar de como eu relembrei que eu estou devendo uma leitura para esse figuraça. Até porque continuo pensando que assim, só no aperitivo, o apetite aumenta.


P.S. O sotaque latino americano com umas derrapadas para o francês faz uma certa graça para os ouvidos mais atentos.
Ah, e claro, ainda que não tenha lido uma linha sua sequer, acho mais que válido o interesse pela obra de Julio Cortázar. Eu prometo que esse eu risco da lista antes de descer os 7 palmos.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Culinária pornô-espacial.


Eu falo putaria. Putaria pelos cotovelos. Já pensei em escrever roteiro pornô e tudo mais. Para falar a verdade, ainda não desisti dessa ideia. Até onde me consta, essa intenção ainda existe. Consigo, às vezes, imaginar cenas completas e não só pra uso pessoal e solitário. E se os dou uma prévia disso, penso filmar minha homenagem sexual a Kubrick (e aos Simpsons) rodando com gravidade zero uma cena onde após o “tradicional” iogurte ser mandado ao “espaço exterior”, a profissional recolha-o ao som de Danúbio azul. Enfim, não é original, é somente uma refilmagem de uma cena do episódio “Deep Space Homer” (que é uma homenagem ao filme de Stanley e um nome bem sugestivo pro meu), substituindo a batata por derivados do leite. Mas aposto que você pagaria para ver isso. Eu, sim.

domingo, 7 de março de 2010

Os últimos da mesa (a infância é cinza).
































82, 60, 10. Vovô, papai e eu.
Uma escadinha de idades, com esse último degrau quase inalcançável que só se salva pela memória boa da minha infância.
Lembro de estarmos todos ali, na Paraíba, numa cidadezinha mixuruca, Pitimbu.
Lembro de viver passando ali os verões, feriados, feriadões, imprensados e finais de semana, sempre no mesmo caminho que a estrada levava, e com minha família apelidando as cidades por suas estórias, besteiras antigas nunca confirmadas, ou por um amigo de um amigo que passou por lá trezentos anos atrás e soube tudo in situ.
Foi por aquelas terras e naqueles tempos, passando desde canaviais pernambucanos ao verde com barro da costa paraibana, que senti o misticismo canavieiro que só Zé Lins saberia narrar. Zé Lins e minha família, óbvio.
Se de um lado eu tinha um Cavalcante alagoano sem “i” e com “e”, que atormenta todos os meus documentos até hoje, do outro, aparecia um Rocha Lima, que desconfio judeu, mas não consigo entender que diabos eles foram fazer em Quipapá, cidade de meu outro avô – o paterno.
Desde que me dou por gente, escuto o mesmo comentário quando passamos justo em um vilarejo antecessor a minha praia paraibana, cuja maior distração é tentar descobrir em um jogo dos 7 erros impossível, se alguma coisa mudou nos últimos 15 anos.
Em umas das antigas viagens a Pitimbu, quando nem sequer existia asfalto e que casa de praia era barraca de acampamento, ao passar por essa vila com duas igrejas (uma velha, outra nova, coisa típica da preguiça nordestina em demolir), um pato se meteu na frente do carro, e empacou. Não adiantou buzina, ronco de motor, nem berros. O jeito foi jogar a ré e rumar por outro percurso calculado metículo-maliciosamente a 5 passos do pato, que por sua valentia virou em nossas cabeças o mascote local. Uma moradora vendo a cena, alertou o pato com a mesma delicadeza que um cavalo relincha: Sai daí, pato atrevido! Tenho orgulho de contar que fui umas das testemunhas do batizado da cidade. Estavamos oficialmente em “Pato Atrevido”.

Como esquecer que aos 8 e 9 anos o medo de fantasma era muito grande. Tinha medo de passar perto de um cômodo da casa pois havia uma plantinha murcha e que segundo vi em uma reportagem reiterada por minha mãe, era sinal que “alguém do outro lado” rondava a jantar na nossa mesa de jantar. Em família que acredita em espírito, até a natureza colabora na fé.
Mas nas brincadeiras de menino naquela praia de interior, eu e meu irmão nos sujávamos com freqüência e sem pavor, nas longas horas da tarde, jogando-nos desde a beira do muro que cerca o cemitério a um sem fim de carreiras e cambalhotas na areia declive, típica e fofa, afundando nossos pés na meninice e na desordem. Voltando para casa, o resultado era um par de canelas sujas e pretas, sob minha perplexa curiosidade em entender o porquê daquela cor, se a areia pisada era mais bem cinza claro.

sábado, 6 de março de 2010

Good morning, elevador.






























Com o peso da sacola de lixo, meu dedo curvou-se ligeiramente.
A letra W desenhada entre os três últimos dedos criava o vazio suficiente para que o aro impreciso e metálico do molho de chaves passasse, nao sem antes arranhar minha pele para logo cair ao chão. Não tardou em chegar aos meus ouvidos a confissão feita a base de tortura que este mesmo chão, recém amanhecido e com uma minúscula lasca a menos, fez.
Ainda era cedo, e tao confuso quanto o cabelo desalinhado que ainda se espreguiçava sobre minha cabeça, andava a própria cabeça em si, se recuperando de não fazer nada durante tantas horas. Não nego a função primordial do sono e muito menos qualquer tese psicoanalítica a respeito. Mas de manhãzinha, recém levantado, qualquer som, torturante ou não, seria recebido com maus modos por meus ouvidos, meu inconsciente e todo o escambau.

Apanhei as chaves e pensei no idiota que sou ao aceitar cotidianamente seu pedido de casamento em meu anelar. Ao ultrapassar a porta, levando comigo a primeira fresta de luz matinal ao corredor comum do prédio, seguia eu ensimesmado andando com a fronte baixa. Por conta do barulho da porta do numero conseguinte ao meu, notei a presença do vizinho que também acabava de deixar seu apartamento. A singular e fraca sombra que o corpo dele projetou no meu campo de vista matutino-depressivo foi a deixa para que as poucas células cerebrais acordadas àquela hora me enviassem uma mensagem unânime.
“Puta que pariu, seres humanos a essa hora, não”.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Eu mereço.


Brasil - Irlanda.
Joguinho bem mais ou menos. Todos na sala. O pessoal da casa mais um amigo visitante. A visita e a menina 2 resolvendo uns problemas matemáticos de um trabalho da faculdade. No sofá, eu e a menina 1, esparramados. Na poltrona, menino 2. Todos – ou quase isso – vendo a partida. Nem que fosse apenas nos momentos de perigo, quando o locutor narrava o lance com um desespero exagerado e, na retina, a pupila dos estudantes vinha bater escanteio.
O jogo continua. A menina 1 insistindo na mudando de canal só pra saber se na outra emissora já havia começado o capítulo de Lost. Nem sabia ela que em campo, ao menos no segundo tempo, 11 irlandeses pareciam tao perdidos quanto. Papo vai, papo vem, surge o tema. E a escalação pra Copa, hein? Discussões à parte, ele, sempre ele, o gordinho, vem à tona. Será que ele devia ser convocado pra Copa (atual mantra e dilema nacional-corintiano)? Será que Ronaldo fez bem em voltar pro Brasil?
Minha opinião era simples. Com a grana que ele está ganhando do patrocinador do timão, o craque provou mais uma vez que é bom também com outras bolinhas: os zeros da conta bancaria (desculpa, mas a piadinha sobre travestis fica pra outro dia).
O que aconteceu a seguir foi isso:

- Quem é o patrocinador do Corinthians mesmo?
- Acho que a Batavo.
- Batavo, Batavo... é um negocio de leite, né?
- É, pô. Leite, achocolatado, enfim, LATROCÍNIOS.
- …

Resultado: O jogo e a noite ganhos.
Com direito até ao típico bordão “Táááá láááá mais um corrrrrpo estendido no chão!”
O meu. Me acabando de rir.

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